Partiu-se da pressentida necessidade de construir espaço "nomeável": uma praça, um largo, uma chegada, um terreiro, um "interior" protegido. Protegido da desurbanidade do viaduto EUA, das desconexas construções envolventes, da violência do sol de Lisboa.
Qualquer dos futuros utilizadores não se poderia imaginar a sair do sítio, fácil e constantemente, como o fariam na cidade. Seria um mundo mais pobre e mais fechado. Todos chegando e partindo de carro, pouco mais.
Sem historicismos, a proposta ensaiou, com volumes, construir um bocado de cidade.
Uma insólita calote verde de relva e árvores sobre as caves de estacionamento afasta o conjunto das vias mais duras que limitam o terreno.
Sobre este plateau arredondado fizémos aterrar dois blocos, respeitadores dos indicadores urbanísticos, riscados de lâminas de sombra nos alçados sul e poente, virando-se ao norte e ao Tejo, trazendo a temperatura do rio, ou a cidade fortemente iluminada, mais tarde.
Atando o "L" do edifício Sojornal, suspenso do chão, criando uma enorme esplanada coberta, um volume em vidro, de base rectangular, alberga a redacção. Foi um sólido que quisémos coração do conjunto, monolito de cristal que sobrevoa a entrada, com o tecto em vidro serigrafado reproduzindo a primeira página do primeiro Expresso (6/1/1973); memória sob a qual se alojam a cafetaria, as lojas, os acessos em "ar livre" controlado, defendidos da envolvente imediata, procurando criar ambiência própria, "agradabilidade", condições de vida.
Um corpo mais pequeno, a norte, destinado a escritórios, direcciona, com o volume brilhante e "voador" da redacção, o olhar do visitante, de quem cruza a praça insólita plantada de árvores: o que se vê é uma faixa estreita de Tejo, agora apertada entre muros significantes.
Propositadamente, inscrevemos Expresso -- o logotipo -- por entre os persianados dos alçados poente e sul do edifício Sojornal, os que marcam, em cunha, a passagem da novel rotunda da Bela Vista. Foi um modo de nomear, afirmativamente; ninguém nunca perguntará onde fica o Expresso porque o edifício "falará" -- enorme out-door ele próprio de si próprio --, assinalando a presença contra violentas estradas.
Um conjunto, então, como uma "cidadela", implantado sobre uma colina verde, ostensivamente artificial, simbólica, topografia re-desenhada e intencional que o posiciona diferentemente no espaço, frente à envolvente, como o terreno original nunca faria.
As paredes construídas são "muralhas" de protecção ao ruído e à força excessiva do sol que amparam, no seu equilíbrio de "massa", a praça propositadamente voltada ao Tejo.
Uma nomeação forte (o logotipo Expresso) no exterior da "muralha" e uma heróica memória da história da instituição, como placa de luz onde se apoia a transparente redacção, são os suportes "literários" da hipótese que acreditávamos fortemente urbana e regeneradora, em território tão desinvestido e carente de intenções; quase como o Expresso, em 1973, ao procurar organizar as ideias de um país impedido.